ESPAÇO DO LEITOR

CULTURAS PIATÃENSES: QUAL O DESTINO?

Meus caros amigos,

Devo registrar a vocês que ando preocupado com a histórica ausência de políticas/ações voltadas para o âmbito cultural em Piatã. Preocupo-me por se tratar de uma cidade com um potencial cultural da zorra, mas teima em não se dá conta disso. Preocupo-me, pois quando nos comparamos a Rio de Contas, por exemplo, é que percebemos o quanto estamos atrasados. Uma provocação:

- Por que as filarmônicas em Rio de Contas são tão fortes, atraentes, bonitas? Por que, a depender do espaço em que se comenta, falar sobre filarmônica em Piatã pode ser motivo de chacota? Por que não se pensa, pelo amor de Deus, que um instrumento musical desempenha também o papel educativo e inclusivo...? Naquela cidade só participa da filarmônica quem não obtém notas ruins na escola ou está longe de bebidas alcoólicas.

- Por que em Rio de Contas é uma graça, a população, no carnaval, se fantasiar de baiana e outras alegorias, esquivando da dita “vergonha” (de se trajar), dando um salve à alegria de estar viva. Por que os Batatas terminaram? Porque não mais movimentos como esses?

Um adendo. No ofício de historiador a que tenho me dedicado nos últimos dias em Piatã, pude ouvir as seguintes narrativas: “melhor seria para nós se uma empresa de minério botasse a serra da Santana abaixo”. Falta de identidade leva a isso...

Noutra ponta vejo os mestres dos heróicos ternos de reis desabafarem, porque seus instrumentos musicais estão precários; porque os itinerários que fazem durante o Ciclo Natalino são custeados com os parcos recursos de suas lavouras.

Do ponto de vista patrimonial, é preciso dá outro salve a algumas famílias de Piatã. Se não fossem por elas, será que haveria casarões antigos no lugar? A especulação imobiliária, cada vez mais voraz, inadvertidamente, suga tudo. Gente, não é necessário inventar a roda. Quantas e quantas cidades conseguem conciliar crescimento econômico com preservação? Deixe as fachadas, meu povo. Elas só fazem bem aos nossos olhos.

No que tange a este assunto, a bola da vez, parece ser a Pensão do Finado Heraque. Um lindo casarão, que hospedou desde os garimpeiros do século XIX, até prováveis membros da Coluna Prestes; das conversas políticas mais calorosas dos anos 70 e 80; das infâncias e paqueras de muita gente. Do Finado Heraque! figura emblemática que recebia às suas dependências, ilustres personagens como seu Claudemiro, seu Justino... Belo cartão postal que poderia se transformar num espaço cultural...

Provoco novamente: Se esperarmos apenas pelos nossos gestores, nossa cultura, cada vez mais mitigada, não terá um final diferente das imagens sacras da Igreja Matriz.

Isso é lastimável!

Faço registrar.

Att,

Pingo

 

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Culturas Piatãenses

Wildes 31/03/2016
Penso que a solução estaria numa ONG, onde se juntariam as pessoas interessadas.
Só conheço Piatã via internet mas tenho muita vontade de morar aí. Aliás, tenho procurado contato com algum corretor de Piatã mas não encontro.
O que me atrae é o clima, que segundo Climatempo gira em torno de 20 graus. Também admiro a ausência de violência, as ortências da Praça, e o famoso café.
Queria comprar uma terrinha aí...Com certeza participaria de alguma ONG.

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Ildimar França Nascimento, é Historiador formado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Mestre em Ciências Sociais (sociologia) pela Universidade Federal da Bahia. Nascido em Piatã, escreveu o livro "Entre a Santana e a Tromba: A formação e o sentido de Piatã, assina a seção História deste site e contribui também em outras seções.

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